18 de julho de 2010

josé saramago

"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais." José Saramago

13 de julho de 2010

Você

Malditos identificadores de chamada, espalhados por toda parte. Malditos telefones, que não dão mais sinal de ocupado, maldito medo de te ligar e você atender. Medo maior ainda de você atender, e me mandar a merda. Acho que na verdade tanto faz. Queria te ouvir bêbado cantando em francês, com a voz insone e a fala arrastada.

Nenhuma vontade de me arrumar, sair, beber, encontrar pessoas, jantar com o amigo do amigo do amigo…

Sigo me obrigando a fazer essas coisas porque é o modo mais eficaz de conseguir que ninguém preste atenção em mim. Essa impressão de estar me recuperando e seguindo em frente me permite continuar te amando.

Ontem antes de dormir eu lembrei do jeito que você, em pé do lado da cama me puxava pelas pernas pra beirada, e afastava minhas pernas, como se fosse me partir ao meio antes de se encaixar em mim. Do beijo bêbado no meio da madrugada. Do braço forte envolvendo meu pescoço. Da mão morta em cima da minha bunda.

Queria ter dormido menos e bebido menos pra lembrar de mais. Queria ter fotos, queria ter feito você sair da tua casa e ficado lá. Queria mais lembranças. Sei que se eu tivesse mais lembranças, não precisaria de novo de você.

12 de julho de 2010

ao amanhecer

Você deitado de barriga pra cima e eu ajoelhada entre as tuas pernas.

Aquilo que é dito feio, sujo e imoral. A janela aberta, a luz do dia deixando tudo constrangedoramente claro e simples. As camisinhas usadas, as garrafas jogadas, as taças quebradas, e meus olhos borrados do rímel preto da noite anterior. Teatralmente, eu estico o braço pra procurar bebida, levanto pra calçar meus scarpins e volto pra cama.

Vontade de te despertar com beijos carinhosos, na parte de dentro das tuas coxas. Ir subindo, hora com beijos e hora com o lábio inferior se arrastando. Avançando e recuando, avançando e recuando. O gemido baixinho viria da tua boca, mas você não olharia, não abriria os olhos. Te conheço o suficiente pra saber, que a viagem do quase “lá”, com o quase acordado te enlouqueceria muito mais do que assistir.

Eu chegaria mais perto, agora fazendo o contorno com a língua, meu rosto te acarinhando quase por acaso. A excitação te endurecendo e você tocando meu rosto com a rigidez. Sem pressa, sem motivo. Porque estamos lá e eu quero te sentir reagindo. Circundando pela base, subindo com a língua até a ponta, beijando, lambendo, chupando, sentindo você inchar dentro da minha boca. Meu cabelo escapando e deslizando no teu corpo.

A boca sendo boca e não alternativa, ou simuladora de boceta. Carinhos leves com as pontas dos dedos nas côxas, o vai e volta do beijo que só quer te servir, a declaração de amor pleno que só se alcança com putaria sem vergonha. A língua te acariciando dentro da boca, em círculos, e as mãos pressionando, apertando, esfregando e deixando marcas.

Marcas no teu corpo e nos meus dedos que se acostumaram a te tocar.

Eu ficaria pra sempre assim te servindo. O “pra sempre” vai durar até minha boca amargar, com o teu gozo.